Vulnerabilidade? O que é isso?

 


Até à pouco tempo eu não entendia a palavra vulnerabilidade, nem mesmo quando me alinhei no caminho do autoconhecimento.

Ouvia muitas vezes para entrar em contacto com as minhas emoções e com os meus sentimentos, para aceitar as minhas vulnerabilidades e eu achava que já o estava a fazer desde que me conheço como pessoa. Só que afinal não! E Porquê Sónia Maria?

Simples! Fui educada assim literalmente! 

Caía e magoava-me e ouvia : "Não chores! Não vale a pena! Já passou!"

Alguém me batia e eu queixava-me aos adultos e ouvia: "Aiiii Então? Só estava a brincar contigo! Vá, Para lá de chorar!"

Tantas vezes durante 2 anos (3ª e 4ª classe) em frente à turma toda a professora castigava-me com reguadas tanto por saber como por não saber, e a turma dizia em coro já muitas vezes treinado: 

"Engole em seco! Tu é que as pediste!" e eu engolia.... 

Durante as vezes que a minha mãe ia para o hospital, eu sentia a falta dela e ouvia de novo: "Estás a chorar para quê? Há muita coisa para fazer! Não há tempo para isso!"

Muitas outras vezes ouvia do meu pai: "estás a chorar para quê? Eu não te fiz mal nenhum!"

Em tantos lugares, em tempos e com pessoas diferentes, que supostamente deveriam perpetuar a segurança, continuava a ouvir:

"Pára de chorar mariquinhas!"

"Não chores! Não adianta! Ninguém te vai ouvir!"

"Chorar pode-te matar!"

"Vá, vá controle-se lá! Você está descontrolada!"

Eu acredito que em todas essas alturas, se uns e outros soubessem do impacto que esta repressão iria provocar nas crianças, talvez não houvessem tantos adultos agora com tanta insegurança, com tanto medo da vida, com tantos relacionamentos destruídos, com tanta raiva reprimida.

Adiante!

Só há pouco tempo (relembro que tenho 44 anos) percebi que só me permitia chorar quando estava com raiva, zangada! 

Todas as outras emoções pouco sabia sobre elas! 

Tive muito pouco tempo para as sentir perante cada abuso, cada agressão, cada insulto, cada voz de ordem! 

Não conseguia perceber que estava triste porque não me sentia protegida! Não conseguia perceber que estava triste de cada vez que tinha sucesso na escola, e em casa não recebia elogios! 

Nem conseguia perceber a questão dos benefícios imediatos que recebia de cada um para guardar silêncio dos "nossos segredos".

Diziam-me para não receber doces das mãos de estranhos, porque poderiam querer fazer-me mal, mas recebia-os dentro do espaço que deveria ser seguro para o mesmo propósito... 

Hoje percebo que foi assim que aprendi a viver... ou melhor, a sobreviver...  

 O prazer não existia sem um senão... a alegria era uma excelente máscara para esconder tamanhos segredos... as amizades, muitas delas tinham um preço alto... o dinheiro e um teto, eram alcançados com dor, humilhação e vergonha. 

Era-me pedida força, quando eu apenas queria gritar e dizer o quanto precisava de um colo e de um abraço que me segurasse e me fizesse sentir protegida. 

Por essa aprendizagem, o "Amor" foi artificial e com ganhos secundários até há uns 5, 6 anos!

Cada vez se torna mais autêntico à medida que aprendo outra forma de viver em Amor, sem segredos, sem contratos, sem condições de exigência, 

Já não preciso de fingir ou esconder quando algo ou alguém me traz tristeza. Já me sinto ouvida quando falo comigo mesma. Já me sinto aceite da forma que sou. Já aprecio mais o meu corpo, mesmo quando o peso vacila um bocado. 

E sim.... isto tudo estava guardado dentro de mim. A decisão foi abrir outra porta e deixar o rio fluir por onde ele precisa ir. 

Agora entendo que ser vulnerável é permitir-me pedir e aceitar colaboração para fazer algo que nunca soube fazer. 

É aceitar que posso chorar, que posso estar triste, que posso estar alegre, que posso fazer menos ou mais do que é exigido pelo exterior, que posso dançar, gritar, e cantar a seguir, que posso dizer não e sim quando verdadeiramente o sinto. 

É aceitar que o meu corpo não é de ferro e que o medo de não conseguir atingir algo faz parte do movimento impulsionador para a ação. 

Entendo agora que a vulnerabilidade ou fraqueza (como lhe queiram chamar) foi banalizada por um sistema de patriarcado longínquo para que a mulher não entendesse todo o poder de criação que habitava dentro dela. 

Ainda existem alguns (muitos) homens que se impedem de chorar e de se sentirem sensíveis perante outros por conta da crença da "masculinidade posta em causa" e muitas mulheres tornam-se duras e insensiveis com o medo de serem abusadas e desvalorizadas pela força física masculina.

Até quando esta discordância? 

Onde o homem coloca a força a mulher coloca a emoção, onde o homem coloca a emoção a mulher procura a força.

E se trabalharem os dois em conjunto e harmonia? Quanto não beneficiarão de forma equilibrada e com ganhos que valorizam um e outro? Para que possam de novo sentir prazer pela vida!





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