O simbolo que me traz o dia do Pai faz-me olhar para os 50% de pai que existe dentro de mim e que eu ampliei em várias direções. 

    Não existem pais perfeitos! Se consideram que existem, então alguma coisa não está bem!
    Ouvir dizer ou mesmo pensar que um pai faz tudo pelos seus filhos faz-me questionar sobre qual o preço que uma criança paga ou já pagou para que isto aconteça (lembrando sempre que o pai já foi criança)!

    Calma! Isto é real! Um pai faz verdadeiramente tudo por um filho, ok! Mas já lá vamos.

    Pergunto: 
    
    Qual a exigência que existiu por trás de um/a pai/mãe?
    Quais as feridas que foram abertas e quais as que foram recalcadas?
    
    Nos dias de hoje o arquétipo de pai/mãe perfeitos é quase sempre acompanhado em algum ponto, de uma criança que se sentiu negligenciada, magoada, abandonada ou abusada, de uma criança que se sentiu traída dentro das suas perceções e realidades.

    Muitas vezes, é quando pensamos (ou não) gerar uma vida, que fazemos uma reflexão sobre a criança que fomos, o que quisemos e não tivemos, o que tivemos e não queríamos, e o quanto estamos dispostos a fazer o oposto, mas sem nos apercebermos, muitas vezes que fazer oposto pode resultar em fazer igual na realidade.
    Como assim igual?
    
    Querer fazer diferente dos nossos pais pode colocar-nos em esforço, no caminho constante dos extremos, em busca de ser perfeito, de ser melhor do que, mais do que, sem nos dar-mos conta que existe um caminho do meio que pode ser feito.

    Inconscientemente, crescemos a culpabilizar os nosso pais por não estarem presentes quando fomos contrariados, quando tivemos a primeira briga na escola, quando fomos humilhados por um professor ou qualquer outro adulto, quando sentimos medo da aproximação de um adulto que não conhecíamos, e os resultados podem ser muitas vezes de frustração, vergonha, culpa, raiva, e até cair por terra a ilusão do super pai que criámos na nossa imaginação, do pai que protege sempre, que indica um caminho promissor, e que dá o amor que queremos receber. E isto dura o tempo em que nos consideramos privados (seja crença familiar ou social) de expressar essas emoções, que pode por vezes ser uma vida inteira.

    Também eu tive um pai (e diria que foi um dos "bons"). Muitas vezes senti raiva, outras desilusão, mágoa, tristeza, insegurança, outras vezes não percebia o que sentia pelo simples facto de pagar um preço para conseguir algo que queria muito, mas eu não conseguia expressar toda a frustração que este jogo de ser filha me fazia sentir.
    Hoje percebo que o facto do meu pai me ter ensinado a saltar do berço com poucos meses, para ir para o mundo em busca de satisfazer as minhas necessidades foi uma grande lição para toda a vida!

    Perceber e aceitar que não esteve sempre presente fisicamente, mas que esteve nas minhas escolhas, nas minhas atitudes perante a vida, nos meus valores, nas capacidades que fui desenvolvendo, me ajuda a validar e valorizar os 50% da sua doação de informação. Por isso hoje sou a pessoa que sou! A pessoa certa! A mãe perfeita para a minha filha!

    Sim, tenho em mim a mãe e pai perfeitos para mim. Agora sei!
   Foi importante para mim perceber que o pai que tinha inventado na minha cabeça não podia existir (coitado se assim fosse)!

    Um pai ou uma mãe, têm uma vida para além dos filhos, e têm muitas coisas mais com que lidar, e muitas necessidades para suprir... ser adulto, com todas as crenças, como todas as expectativas familiares e sociais, com todas as exigências que recaiem sobre um só ser humano... e em que muitas vezes não sabemos sequer como usar os 50% que temos de cada um dos progenitores.

    Enquanto adulta, é duro descascar para uma criança, o papel de mãe/pai ausente. Por vezes nesse papel pode sentir-se como sendo a melhor coisa que precisam fazer para não dar um "mau exemplo" aos filhos, outras vezes usam como fuga para não se encontrarem com as suas próprias feridas e as tratarem... mas não sabem que na realidade estarem ausentes, estão a criar na criança que deixam para trás, uma ferida tão grande ou maior do que a sua.

    A criança traduz esta ausência como: "Não sou amada pelo meu pai ou pela minha mãe. Ele/a não se importa comigo. Eu não sou boa o suficiente para os meus pais. Eu sou um erro. Eu não mereço. E se eu fosse perfeita, será que me vão amar?"

    Agora também sou mãe, e agora vou finalmente entendendo como foi ser filha dos meus pais, e também eu por vezes não sei tudo e que erro muitas vezes. E por isso vou aceitando experimentar fazer, não o oposto, mas diferente.

    Talvez a minha filha venha um dia a perceber isto também, sabendo que os 50% que lhe passei já contêm as ferramentas necessárias para manifestar a liberdade de expressão a seu favor e da melhor forma que conseguir, e também de que os pais não são perfeitos, mas, na minha crença, todos se empenham em ser os melhores pais e fazem tudo pelos filhos da melhor forma que conseguem com os recursos que têm.

    Foto TBT de 7 anos atrás.

Sónia Grilo
A ReConstrução do Ser


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