Toque Consciente Afetuoso

 





Uma pergunta muito pessoal que me fizeram um dia!

Qual é para ti a importância do toque?

Sem entrar muito em detalhes da minha outra vida, antes de ser terapeuta, mas dando-lhe ao mesmo tempo toda a importância para o facto de estar agora a falar sobre este assunto, posso começar pela forma como sentia o toque na minha vida.

Durante muito tempo senti no corpo um toque agressivo e violento que chagava à minha vida vindo de vários lados... da família, de relações intimas e de amizade, do trabalho, e, aumentado o leque de sugestões, da própria sociedade.

Hoje sei mais coisas que antes não sabia, hoje já sinto esses acontecimentos de várias maneiras e decido qual a importância que lhes quero dar. Mas o facto, é que sentir essa agressividade e violência ignorantes e desprovidas de qualquer afeto adequado, serviu-me para decidir o que e como me tocam, a vida, as pessoas e até eu própria.

O toque é muito mais do que uma forma física de interagir connosco ou com outro ser humano, ele  também surge de forma energética, mental, e emocional, e é esta última que é muito responsável por atrair ou afastar determinadas situações e pessoas da nossa vida.

E podendo regressar um pouco à origem, dou conta que o corpo humano é extraordinário a guardar memórias, tanto as da sua vivência como as do sistema familiar em que está inserido, sejam elas prazerosas ou dolorosas, desde a sua passagem pelo útero da mãe.

É aí que temos a primeira grande relação com o toque. Tudo o que a mãe experimenta e sente, o bebé também sente, como uma perfeita simbiose, mesmo que este não esteja ainda em contato com o exterior.

À entrada do bebé no mundo, todos as "antenas" recetoras localizadas nas articulações e nos músculos passam a responder de uma forma mais imediata aos estímulos ambientais e sensoriais, como a dor e o frio, e que acalma assim que existe um contato pele com pele. 

Mais do que a pressão ou a palmada exercida sobre a pele, a forma como pegamos um bebé ao colo, como a observamos e o modo como falamos mais ou menos amorosos com ele, transmite-lhe muito do nosso carater e dos traumas que transportamos conosco desde essa nossa fase. 

E acreditem, todos os bebés nascem com essa capacidade de descriminar adequadamente (tal como os adultos), o caráter de uma pessoa a partir da qualidade do seu aperto de mão, do tom da sua voz, e até da intensidade dos passos na aproximação, por exemplo.

O corpo responde a esses diferentes tipos de toque com estímulos elétricos e picos de adrenalina que se concentram em determinadas zonas do organismo e que provocam de imediato uma descarga emocional. Arrepios de frio, calor, suor, choro, riso, são algumas das várias reações provocadas por esses "choques elétricos" que vêm ligados a emoções como o medo, a frustração, tristeza, raiva, alegria, entusiasmo, prazer, etc.

É tão importante estarmos atentos aos sinais do corpo! Eles podem, muitas vezes, dizer-nos que estamos em segurança, ou podem querer dizer-nos que está na altura exata de sair da situação em que nos colocamos, talvez inconscientemente, e pedir apoio se necessário.

Quando o corpo deixa de ser observado, escutado, sentido, tocado com afetividade, ele entra num modo de morte precoce ou de sobrevida!

Nessa altura esse corpo passa a ser "usado" em prol das necessidades não atendidas de adultos desestruturados, como que um instrumento.

Passa a respirar apenas o suficiente para se manter funcional para que alguém tenha quem cuide dos filhos, da roupa, da casa, da comida, sem levantar ondas... para fazer mais horas de trabalho além do que está no contrato e sem ser pago por isso... manter-se em silêncio ou na quietude física para que a sua presença não incomode o turbilhão de pensamentos insensatos de alguém... 

Passa a curvar mais a coluna cervical... deixa de se ver ao espelho... deixa de ver as estrelas... vemos assim o corpo adoecer por ausência de toque amoroso e afetuoso, e entregar-se a uma realidade gradualmente destruidora da sua própria humanidade...

E é quando a dor não cabe mais no corpo que se acorda para a vida, algumas vezes apenas a uns minutos do fim! É quando a boca se abre para gritar BASTA! 

Este nosso corpo não é só físico, é também mental, emocional, espiritual. 

Em algum momento ele recebeu amor! Amor de verdade! 

Em algum momento será necessário e urgente resgatar esse amor que está guardado dentro de nós! Então é preciso trazer à luz como que num despertar, várias mentiras que são perpetuadas de geração em geração, de que a agressão, a violência, o ciúme, o controlo, o castigo, são provas de amor, e que manter alguém fechada em casa é para proteger a sua dignidade, mas que na realidade mostra uma grande ausência de respeito pela vida humana.

E nesse momento chega uma sabedoria e uma lembrança interna que faz o coração bater de novo. A lembrança de um toque gentil, suave, sem condições ou imposição de retorno, a lembrança de que o amor liberta e cura as memórias de dor que o corpo transporta. 

Trazer uma nova consciência de toque afetuoso ao corpo é urgente! É urgente ser gentil uns para com os outros! É urgente perguntar mais e julgar menos. É urgente abraçar mais e ao mesmo tempo respeitar o espaço físico do outro. 

A terapia corporal ajuda imenso a fazer esse resgate da individualidade, toda a que envolva toque consciente e com intenção de cura. 

Eu recomendo a massagem, como um dos complementos no encontro entre o corpo e o espírito, nesse caminho de cura. 

Por ora deixo-te com algumas perguntas no ar, para que de frente para o espelho possas refletir sobre elas, à tua maneira, tal como eu já o fiz um dia.

Como me sinto tocada pela sociedade?

Como me sinto tocada pela familia e amigos?

Como me sinto tocada na escola/no trabalho?

Como me sinto tocada pelo meu companheiro/ minha companheira?

Como me sinto tocada pelos meus filhos/as?


e por último e talvez as mais importantes, e lembrando os vários tipos de toque,


Como me sinto tocada por mim?

Como gostaria de me sentir tocada?


Há muitos anos eu fiz a minha escolha e agora podes fazer a tua com muito amor por ti.


Abraço-te

Sónia Grilo

Em A ReConstrução do Ser


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