Auto Avaliação vs Colectiva








Ontem tive um diálogo interessante com o meu Companheiro (e com ele são sempre muito interessantes, acreditem), sobre de que forma, muitas vezes subtil, a opinião dos outros pode alterar a nossa realidade e levar-nos a agir em conformidade com o que o colectivo considera ser mais correto fazer segundo os valores, padrões, crenças e intenções de cada um e por conseguinte retirar-nos ou devolver-nos o poder de agir seguindo a nossa intuição.

Hoje merece uma reflexão minha, mas ampliada para o colectivo, porque o assunto continuou a trabalhar dentro de mim e percebi que é para passar a mensagem.

Muitas vezes a atitude dos outros, em relação a nós, coloca-nos de frente com a dúvida, a curiosidade, o entusiasmo, a expectativa, a indignação ou um conjunto de tanto e tudo ao mesmo tempo, que gera a confusão total ou o momento de epifania.

Por vezes não avaliamos o estado emocional em que estão os intervenientes e quando a nossa curiosidade entra num pico de pureza e inocência, deixamos sair um “ Ahhhhh! E agora? O que eu faço com isto?”

Sorte será se estamos sozinhos ou na companhia certa, no momento em que o pensamento ganha voz, para evitar que tenhamos impulsos desnecessários e nos coloque em situações futuras de desconforto!

Sim… entendo que para cada um seja complicado estar em constantes auto-avaliação e observação (este é o nosso verdadeiro trabalho, chiiiiiiiiiu não contem a ninguém) porque é mais fácil ver tudo nos outros…. Os erros, os enganos, as culpas, os estragos, o excelente trabalho, a beleza, a gentileza, a amorosidade, a empatia…. mas tenho outra novidade que podem não gostar (porque eu também não gostei quando descobri)!

Quem vem ao nosso encontro traz noticias de nós… traz o nosso reflexo… seja ele agradável ou nem por isso… seja ele duvidoso ou assertivo…  mas se queremos relacionamentos saudáveis, sejam eles amorosos, profissionais, sociais, familiares, precisamos de avaliar em que ponto emocional estamos nós e aqueles com quem interagimos.

No passado a minha vida acontecia a 2000 km/h, era assim que a conduzia, por isso tive ataques de pânico e ansiedade junto com picos de hipertensão arterial muitas vezes … coloquei-me algumas vezes em situações dolorosas e desconfortáveis, queria estar sempre à frente, mas escondia-me em cada paragem ou em cada voltar atrás, para ninguém me ver em excesso de velocidade, nem em processo de dor.

Muitas vezes acontecia eu saber o que ia acontecer a seguir, porque já tinha passado pelo sítio e avisava… sem permitir que quem vinha atrás pudesse viver o momento como factor surpresa ou simplesmente tirava o encanto do momento…
Sei que ainda o faço, mas a velocidade é muito menor…  agora mais suave e com o propósito de apreciar… agora sugiro paragens para contemplação.

Agora, quando surge uma questão que me intriga, prefiro parar para avaliar primeiro:
. Como me sinto com o que acabei de experimentar?
. Como avalio o que sinto? Pode servir de exemplo para os demais?
. Será que o que vou passar para eles é respeito pela sua identidade, é vontade que façam o que eu considero correto para mim, ou é apenas a vontade de partilhar a minha experiência e validá-la?

Por exemplo, imaginem esta vivência que vou transcrever, porque a presenciei com alguma distância, mas imagino-a como experiência minha para entender o comportamento imediato do Ser Humano:
    
- Vejo-me passear no parque na companhia de uma amiga, da mesma forma que vi aquelas duas amigas.
Passa por nós um rapaz, para, sorri e oferece uma flor a uma delas.
“Eu não o conheço de lado nenhum” diz para a amiga quem recebe a flor.

O meu processo interior gatilha e dá início à compreensão do momento no pensamento.

“Foi querido e gentil. É assim que ela é vista? Como uma flor? Uau! Muito Grata! Extraordinário! Tenho de contar isto ao meu companheiro!”

Nesse momento a expressão facial e corporal da amiga é de espanto e ao mesmo tempo indignação! Estampado na cara está escrito “Então e Eu?”

E é então que ela verbaliza o seu processo com risadas nervosas. E ouvi aquilo como se fosse para mim.

“Ai Amiga! Que foi isto? Tu não conheces? Quem é? O André conhece? É amigo dele? Porque é que ele te ofereceu a flor? Não vais falar com ele? Devias dar-lhe um presente de volta! Ou ir beber um café com ele! Ele é giro e tudo! Mas olha, vê lá se o André descobre! Vê lá o que é que vais fazer!”

Eu olho para dentro e internamente avalio como me sinto no momento, o que aquela situação me traz e assertivamente reajo em mim.

“Estou num relacionamento com o André que me acrescenta a cada momento. O rapaz foi simpático, sim! Já agradeci! E agora sigo em frente! Tocou-te mais a ti que a mim! Vai lá tu falar com ele! És tu que procuras respostas para essas perguntas todas!”

A miúda que recebeu a flor ficou agradecida e seguiu o seu passeio e disse à amiga : “Vai lá tu ter com ele se estás tão interessada! Eu tenho namorado e não preciso de me meter noutras situações!”

Eu agradeci àquelas miúdas o exemplo que me deram.

Por isso é preciso compreender em que estado emocional ou realização pessoal se encontra cada um, para não cairmos na tentação de reagir pela vontade dos mais comuns mortais.

Não se trata de fazermos o politica e socialmente o correcto e esperado, mas sim, antes de verbalizar o que quer que seja, olhar para dentro e perceber o que por lá anda a acontecer.

É importante olhar para quem nos rodeia e se nos inspira ou não.

Podemos e devemos agradecer sempre a vontade dos outros quererem “organizar” a nossa vida, mas uma vez chegados à idade adulta e sendo cada um de nós um ser humano consciente e responsável, cabe-nos essa tarefa a nós próprios.

Quando tens um plano, antes de o revelar, vê quem é o teu público, vê quais os resultados que tiveram, vê quem te pode ajudar a concretizá-lo, sem forçar ninguém obviamente.

Quando sentes uma emoção forte e não sabes como lidar com ela, vê das pessoas que te rodeiam, quem te impulsiona, quem te inspira, quem te serve de exemplo, e se não encontrares perto alarga o teu circulo de distância e procura mais longe.

Questiona as pessoas certas sobre como encontrar a saída ou uma outra entrada.

Com esta reflexão lembro-me do Sr. António. Um grande senhor que cruzou a minha vida em 2015 e mesmo num processo seu de dor e sofrimento ainda conseguiu inspirar-me.

Num dos seus muitos internamentos no piso onde trabalhei durante 6 anos como Auxiliar de Acção Médica, o Sr. António viu-me fazer massagem numa colega minha e meteu conversa connosco.
Perguntou-me o que estava eu ali a fazer num serviço daqueles, se a minha especialidade era outra e que se via ao longe que me estava a dedicar de corpo e alma ao que estava a fazer precisamente naquele momento.

Fiquei a mastigar aquela pergunta durante uns bons tempos.

Eu respondi-lhe que era apenas um dom… e que não tinha formação na área! Obviamente ele não acreditou e questionou de novo incrédulo, porque raio estava a perder tempo ali quando quem estava à volta não valorizava o meu Dom!

Então ele partilhou a sua experiência…
Não me recordo o que ele disse que fazia antes, mas que com 45 anos foi tirar o curso de Desporto e Estudo da Motricidade Humana e que estava finalmente a fazer o que tanto gostava.

“Jamais permitas que te digam que não podes realizar os teus sonhos! Coloca-os no papel, dá-lhes forma e chama-lhes objectivos e depois faz pesquisas sobre o que queres aprender e avalia o que queres mesmo fazer! E entretanto já estás a fazer com que tudo aconteça” Disse-me ele um dos muitos dias que partilhamos momentos.

Em cada internamento seguinte questionava-me se já me tinha inscrito em algum curso e comprometeu-se em fazer-me essa questão sempre que me encontra-se em momentos futuros.

Foi a persistência do Sr. António ( e de muitos outros “Antónios” a quem chamo de Anjos e Guias, que se foram cruzando comigo) em acreditar nas minha capacidades e nas minhas virtudes, que me impulsionou a sair da zona de conforto e no ano seguinte inscrevi-me finalmente no curso de Massagem Intuitiva Holística que me serve ainda hoje como ferramenta de Auto-Conhecimento e Desenvolvimento Pessoal e me trazem vontade de aprender mais e mais para melhor servir a mim própria e a todos os outros que me rodeiam.

Por isto tudo precisamos avaliar bem as nossas companhias. Puxam-nos para baixo ou impulsionam-nos para cima?

Não precisamos expulsar ninguém das nossas vidas (todos têm um papel muito importante sempre que chegam e sempre que vão embora) mas podemos escolher com quem nos queremos rodear e que opiniões queremos aceitar.

Sejamos Gratos é o que posso passar de melhor.

Sónia Grilo
Num processo de Gratidão em constante ReConstrução






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