Aceitar é tomar novas decisões!





O que transportas tu de um lado para o outro? 
A quem importa isso que levas?
Qual a porta que abre?
Por dentro ou por fora?

Qual é a palavra comum? 

POR 

Dá uma ideia de tempo e espaço que, ainda que digam que até isso é uma ilusão, nos coloca por inteiro nesta experiência de seres humanos, nesta relação tempo/corpo/espaço. 

O que fazemos nós com toda essa experiência intensiva de viver, de respirar? 

Ontem, um irmão de caminho dizia-me que se lembrou de mim numa determinada situação que lhe surgiu,  em que se questionava de como faria eu para suportar/lidar/entregar os desafios que a vida me oferece em determinadas áreas da minha vida e ainda assim continuar a sorrir. 

Precisei de uns momentos para processar aquela pergunta, já não pensava nela há algum tempo, porque talvez já não estou tão atenta ao que penso quando as situações surgiam... e ele (sem se aperceber) fez-me pensar nisso com alguma seriedade. 

Na realidade, foi e continua a ser muito trabalho de bastidores... aquele trabalho que ninguém vê... aquele que se sente nos dias em que a tristeza, a raiva, o medo, a frustração chegam sem aviso e que não se podem deixar na rua "ao deus dará"... aquele trabalho que se sente quando aceitamos que o outro que está à nossa frente é só um espelho do que vibramos no nosso interior mas que não queremos olhar porque não é aceite pela sociedade. 

Percebi que durante muito tempo abri a porta ao "modo sobrevivência", aquele modo em que vale tudo para sair de uma situação de necessidades não supridas e de preferência bem rápido, isso associado ao registo que tinha padronizado de "vítima passivo/agressiva" em que me sentei várias vezes.  Para mim era urgente sair de qualquer situação que me trouxesse sofrimento... não tinha tempo para sentir dor, não tinha tempo para desejar ter mais, ou estar, ou mais isto ou aquilo... naqueles tempos eu sentia que  precisava focar-me apenas na existência da minha filha, para que não perdesse tanto quanto eu deixei para trás. 

Muitas vezes fala-se na Justiça Suprema Divina para algumas situações. Desde pequena que eu ouvia dizer aqui e ali, quando alguém ficava incrédulo com as atitudes de umas pessoas para prejudicar outras e alcançar o que mais queriam, umas frases do género "Deixa estar. Respira fundo e não faças nada! Deus não dorme e vê tudo! A Divina Providência vai encarregar-se da situação e colocar tudo e todos no devido lugar!" 

Pessoas Sábias! Conhecimento Ancestral bem alinhado! Agora entendo!

Aquela questão do meu irmão de Caminho... fez-me parar para avaliar! 

Entendo que, nos diferentes papéis que acabamos por representar na nossa vida e nas vidas das pessoas com quem nos relacionamos, quer seja em contexto amoroso, de amizade, de colegas de trabalho, de pais e filhos, por vezes não é para fazer rigorosamente nada. Por vezes pode servir apenas estar presente e em silêncio, que a resposta já vem por si... outras, pode ser que seja preciso falar mais alto ainda do que quem já fala alto para que este consiga ouvir outra voz além da sua.

A nossa presença em silêncio já gera por si uma energia que pode sustentar a alteração de comportamentos ao redor. Dependendo da frequência em que cada um está, esse silêncio pode ser incomodativo para uns ou valer ouro para outros. 

Por exemplo, surge um divórcio e um dos dois não aceita separar-se ou não aceita ser separado de alguém, porque talvez em alguma fase ou momento da sua infância se sentiu abandonado ou separado de A, B ou C e com isso experimentou medo.
Ao entrar na vida adulta esse medo pode mascarar-se em fraquezas não aceites como a raiva, a manipulação, a possessividade, a obsessão, o ciúme, etc. E, como socialmente são manifestações que não são bem aceites ou não entendidas, o que acontece muitas vezes é que essas pessoas habituam-se a usar esses recursos de forma agressiva para alcançar tudo o que desejam através da força física.

São constantes as vezes que afirmam que só querem ter paz nas suas vidas, mas não entendem que essa paz pode ser podre enquanto não olharem para si mesmos e  enquanto não "limparem" (aceitação dos próprios enganos) todo o lixo que esconderam de baixo de um tapete durante anos e se fixaram numa aparência que seja agradável aos olhos dos outros. 

Eu falo disto porque conheço essa fase tanto do lado direito como às avessas!

Durante o tempo que me senti "andar em pleno terramoto", eu tinha muita pena de mim mesma! Dizia muitas vezes "Deixem-me em paz! Eu só quero paz! Porque é que me estão a fazer isto? Eu não fiz mal a ninguém"! Mas com o tempo e com aprendizagem entendi que são determinados desejos que nos colocam num caos interno que pode manifestar-se no exterior. 
Eu fui muito dura comigo mesma pelas escolhas que fiz no passado, mas agora decidi aceitar que um começo que se revela triste pode ter um final feliz. 

Aceitar é tomar novas decisões!

Tal como se diz na Sabedoria Budista sobre a verdade da causa do sofrimento: 

"Reconhecer o facto de que sofremos por não gostarmos do que temos; desejamos que as coisas sejam diferentes do que são na realidade. Então, a causa principal do sofrimento será o desejo em si e não a incapacidade para alcançar o objecto dos nossos desejos." 

Portanto, a menos que aceite que a minha condição interna já é Paz, o que posso acabar por atrair é caos! 
Aceitar o que não depende de nós mudar... Aceitar que não podemos mudar ninguém... Aceitar que está nas nossas mãos a forma como nos queremos sentir, seja ela qual for.

Enquanto as situações passarem Por ou Para mim, eu posso escolher como me quero sentir.

Logo, quando eu me posiciono no que sou verdadeiramente, tudo o resto que chega torna-se bem mais leve ao ponto de já não causar sofrimento.

Caminhando e aprendendo muito num eterno abraço em mim.


Sónia Grilo

Em constante ReConstrução do Ser.














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