A CARTA
Somos tanto mais do que o simples corpo que observamos à
nossa frente... Somos tanto mais do que
o código genético que ele transporta… para mim é perfeita a visão da ponta do
iceberg para ilustrar o universo de informação que está colado a cada ser, por
debaixo dessa capa.
O que está escondido por
trás de um simples comentário e da sua resposta!
Muitas vezes não falas alto por medo do julgamento externo… ou
porque não queres saber as opiniões…. Ou porque receias que as pessoas não
pensem como tu e não queres que isso te seja dito com frontalidade…. Ou não queres
ser colocada em dúvida... não queres ter dúvida daquilo que acreditas, porque
sempre foi isso que te foi apresentado!
Não conheces outra realidade…. Ou será que sim?
E se conheces, não te atreves a questioná-la?
E se a questionas, não queres ouvir a resposta?
E se for algo que vai deitar abaixo tudo aquilo que te foi
ensinado pela escola, pelos amigos, pela família, por quem aprendeste a amar, e
que por isso concordas com tudo?
E se for algo que já está enraizado de tal forma dentro de ti,
que já te alimenta há tanto tempo e que foi isso que fez de ti a pessoa que és
hoje?
Doce/ amarga, generosa/ egoísta, amorosa/ horrível, durona/
lamechas, positiva/ negativa, corajosa/ medrosa, salvadora/ vítima, pacifica/
agressiva...
Vou sossegar-te…. Todos somos muito isso tudo...
Sabes o que é ser doce, quando já sentiste o sabor amargo.
Sabes o que é ser generosa, quando já sentiste o ego falar
mais alto sobre o que consideravas falta.
Sabes o que é ser amorosa, quando já fizeste algo que te fez
sentir a pessoa mais horrível.
Sabes o que é seres dura, quando passaste muito tempo a
lamentar o ar que respiravas.
Sentes a força da coragem quando tens medo de avançar, mas
sabes que a tua vida depende de se te moves ou não.
Conheces o impulso de salvar quando já estiveste numa fase em
que sentiste que ninguém fazia nada para parar o teu sofrimento.
Descobres momentos de paz quando percebes que não podes
controlar a mudança de ninguém ao teu redor, para que tudo seja feito da forma
que tu queres apenas.
Depois acordas… abres os olhos e vês tudo ao contrário! E que
precisas começar tudo de novo!
As pessoas que amavas foram embora de alguma forma ou
deixaram de ser quem tu vias, e descobres que tu já não és a mesma pessoa… e
que podes amar outras de forma diferente e também intensa e que isso não muda o
que sentes por cada pessoa que passou e passa na tua vida!
Essa memória vai ser sempre tua, sabias? Só tu a podes manter
ou deixar ir?
E qualquer que seja a decisão que tu tomes, ela é válida, ela
vale ouro!
Entretanto, respiras fundo e vês mais…
E como é que te sentes quando vês que, aquelas pessoas, já
não são o que tu conheceste delas? Ou pelo menos o que te foi mostrado na
superfície?
E agora? Parecem-te melhores ou piores pessoas?
Olha para dentro! Será que foi o exterior que mudou a sua
máscara? Ou será que finalmente colocaste um filtro ou simplesmente o retiraste
e percebeste a verdadeira importância que dás a tudo e a ti própria?
Deixaste de ver as aparências? Caíram máscaras ou outras se
colocaram?
Deixaste de ver aquilo que tu gostarias de ver e vês agora o
que precisas na realidade?
Passaste a usar mais do que o tato ou ainda estás na fase de
que só acreditas naquilo que tocas, e que vês por fora?
E por fim, quem é que acredita nisso, és tu ou quem está à
tua volta?
Quais são as crenças de quem te rodeia? Em que modo se encontram,
revoltados, envergonhados? Ou tranquilos e confiantes?
Quais são as suas questões e as suas dores invisíveis? E as
tuas? Eu percebi que já olhas para elas com outros sentidos…. Aprecio isso.
Mas, ainda assim, bebes e comes tudo o que te dizem que deves
tomar, porque é essa a experiência de quem te rodeia?
E se beberes e comeres apenas o que te chega? O que tu vais
buscar?
Toda a gente sabe muito de todos… e o que sabe cada um de si
próprio?
Experiências científicas são colocadas na mesa e servem o
geral, a comunidade, e se faz um bom efeito num ser humano, então, empiricamente
acredita-se que fará bem a todos, porque são todos seres humanos!
Mas na realidade, isto é uma incógnita, e os próprios
cientistas muitas vezes se sentem inseguros em relação aos resultados, visto
que quando se pergunta “isto vai ter um bom efeito em mim? ” a resposta é “cada
caso é um caso… não sabemos como vai reagir… vamos experimentar e esperar para
ver”… e pronto toda a gente aceita isso!
Morrem pessoas, outras ficam com sequelas de tantas experiências
empíricas com novos medicamentos, mas está tudo bem! Isso faz parte da condição
de ter um corpo e estar vivo, certo?!
Depois, vão surgindo outras descobertas, algumas empíricas ainda,
porque gira em torno de energia que não se vê e que trabalha de forma diferente,
mas muito profunda em cada pessoa, porque ela se adapta a cada situação de
forma individual e aí chegam então muitos pontos de interrogação…
Vamos trabalhar todos juntos, Mente, Corpo, Emoções e Espírito?
Pode ser?
Existem muitas crenças enraizadas no ser humano… ora sejam
elas difundidas como fumaça que entra pelas narinas ou pela boca na forma líquida
e sólida, ou ainda pelos olhos e pelos ouvidos e pelo resto do corpo….
Será que é mesmo muito importante o que as pessoas pensam de
ti? No que tu acreditas que funciona?
Ou será a tua necessidade, de servir a humanidade da melhor
forma e quereres ver toda a gente sentir-se bem ao teu redor, que precisa de
ser atendida? Porque se tu puderes ver o resultado que as tuas mãos provocam
nos outros, vai fazer de ti uma pessoa mais feliz? Ou será que tu já és feliz e
por isso queres fazer essa partilha com o mundo e assim deixa de ser uma
necessidade a ser suprida e passa a ser um propósito de vida?
É mesmo muito importante saberes que as pessoas te veem como
alguém que dá o seu melhor por todos os que te rodeiam, ou será suficiente saberes
que estás verdadeiramente a trabalhar para ti e convém que o faças com toda a
dedicação que te é possível, e que dessa forma todos beneficiam?
Sabendo tu que as opiniões dos outros terão sempre em conta o
estado emocional de cada uma delas?
Será que é mesmo muito importante para ti ouvires a opinião
de alguém que te fala o contrário sobre alguém que tu admiras muito?
Não crês tu, que é hora de tu própria teres as tuas próprias
opiniões baseadas nas tuas experiências e no que elas te fazem sentir
verdadeiramente?
Escreve-as, são todas tuas! E que importa se ninguém as lê? É
sobre ti…. É sobre a tua vida…
O teu trabalho não é para os outros! Sabias isso? O trabalho
que fazes para alguma empresa ou instituição, não é sobre eles… é sobre ti! É
sobre o que tu fazes com a pessoa que és! E és tanto mais do que o que te foi
dito, sabias disso?
Uma das coisas que me deixa “triste” é observar que meio
mundo procura encontrar o “lado negro” de outro meio mundo que é “socialmente
aceite e bem visto” por uma maioria que só quer sentir-se bem, precisamente
para não se confrontar com a sua própria sombra…. Para que não tenham de exteriorizar
coisas como a vergonha, ou a rejeição que tenham sentido de alguma forma na sua
perceção do que é “ser amado e ser aceite” pelo mundo exterior como diz uma
querida amiga minha.
In-veja quer dizer veja dentro, o que está fora está dentro e
o que está dentro está fora algumas vezes com valor acrescentado.
Mas tudo isto vale o que vale… faz parte da condição de Ser
Humano… aceita.
E em termos de mudanças sobre tudo isto, terá sempre de
partir do sentir, da experiência, da observação de cada um!
Enquanto “Eu” Sónia, terei pessoas que não gostam de mim e
vão procurar encontrar erros no meu passado, ou coisas das quais eu não me
orgulho, para “manchar “ o meu quadro presente, também terei a mim própria para
mostrar que não tenho vergonha desses erros e que provavelmente continuarei a
cometer alguns, e que graças a eles cresci e aprendi e vou continuar a crescer
muito, e ainda assim terei pessoas que vão gostar de mim por quem sou ou por qualquer
outro motivo que poderei nem saber ao certo.
E depois vem aquela nobre questão… O que é que é certo e o
que é errado, quando as religiões, as culturas, as crenças, a educação, a família,
e o meu espelho me mostram tantas coisas que ao, as sentir na pele, me fazem
sentir algo que na realidade não sou?
Farei de mim a pessoa mais per feita mente im per feita! E
percebo que eu sou gigante dentro de mim porque consegui colocar-me várias
vezes em questão, de forma amorosa, nesta carta que me escrevi quando descobri
que queria responder muito mais do que apenas:
- “Muito Obrigada pela partilha… vou pesquisar mais. Muito
Grata.”
Este é um pedaço de mim, Sónia Grilo em constante (Re)Construção
do meu Ser
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