Hora de (Re)ligar o Corpo à Alma



A imagem é forte, sim.... e o assunto por trás da imagem também... Senti um forte impacto emocional quando a vi esta imagem num post de um amigo/irmão enfermeiro, associando o testemunho de uma outra profissional de saúde no link abaixo indicado.


Como compreendo o pesado sentir de cada um... compreendo porque durante anos entreguei a mão, o corpo, a mente, e até a alma muitas vezes, a esta linha que está à frente de qualquer necessidade agora, que tem o nome de Morte... 

Não me lembro do grande número de vezes que e a quem dei a mão, ou que simplesmente fiquei a assistir aos últimos batimentos cardíacos e últimos suspiros agónicos de quem decidiu partir por algum motivo que apenas o Universo saberá (ainda que para muitos seja cedo de mais ou não compreendam o porquê da partida).... 

Muitas vezes fiquei presa naqueles momentos, umas vezes de madrugada onde todos dormiam, outras após as famílias se retirarem, outras ainda porque não havia mais ninguém para ficar ali, outras porque os próprios pediam para morrerem sozinhos... e muitas, mas muitas vezes chorei sozinha por quem estava ali, pelos familiares, pelos amigos, porque também me lembrava muitas vezes das minhas próprias perdas....

A morte traz muita emoção... a uns raiva, a outros tristeza, a outros liberdade, a outros descanso, a outros tumulto.... 

Por estar tantas vezes presente neste acontecimento da vida, por tamanha experiência fico e sou imensamente grata. 

Nesta fase, neste processo do qual eu me resguardo e que agradeço por todos os que estão lá na linha da frente a fazer braço de ferro com o invisível, eu volto a esse passado que ainda é algo recente e vou buscar as aprendizagens que tive.... 

Vi muitas vezes doentes serem "despejados" no internamento e entregues às nossas mãos com a desculpa de que "não tenho condições, nem tempo, nem ninguém para cuidar dele ou dela"... triste... outros havia que a seguir à sua morte eram "esquecidos" por não haver quem os fosse buscar para um funeral digno.... 

Mas sim.... agora finalmente começa-se a olhar para isso de uma forma bem mais incrível e regeneradora..... agora há tempo, mas não há a possibilidade de estar lá, para fazer o papel de acompanhamento em vez do profissional de saúde, começa-se a dar importância ao acompanhamento individual e colectivo de quem está de partida, porque o seu corpo foi escolhido para trazer uma lição ao mundo de cada um que passa pela dor, seja ela de impotência, de insegurança, de frustração, ou de incompreensão...

Esta fase traz o acto de Cuidar e Ajudar, traz Presença, Importância e Lembrança finalmente... traz mais Sensibilidade e Sensatez.... 


Esta fase separa famílias e amigos para que cada um descubra finalmente a importância da União, da Compaixão, do Amor Incondicional, do Servir, da Autenticidade.... da Escolha Consciente da vida que quer viver, com quem quer mesmo estar... 

Mas, mais importante ainda, no meu humilde entender, é preciso Olhar de novo para nós mesmos e entender que não somos apenas um corpo na Terra, mas sim Utilizamos um Corpo para cumprir o nosso Propósito e a nossa Missão neste Planeta maravilhoso... Sermos Amor na vida uns dos outros... 

Agora que já sabemos o que a dor proporciona com as perdas de entes queridos que nem sequer podemos tocar, e cujos corpos regressam nus à terra da mesma forma que chegamos a ela... trazendo à vida o desapego da consciência da matéria...

Sejamos mais Amor uns para os Outros.... mais Presença.... Sejamos mais Compaixão e Perdão na vida uns dos Outros.... E dessa forma a Mãe Terra e o Cosmos, Universo, Deus, devolver-nos-à a uma Vida Plena.

Eu, Sónia Grilo, um Ser em (Re) Construção, Entrego... Acredito... Confio... e Agradeço




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